Paixão ou amor? Um mergulho nas profundezas de si mesmo

Sandra Midori Sasaki • 29 de agosto de 2019

Histórias de amor sempre fizeram parte do imaginário das pessoas. Histórias de amor inspiraram artistas, poetas, escritores, músicos. Histórias de amor adoeceram pessoas. Histórias de amor enlouquecem homens e mulheres. Histórias de amor revelam o que há de melhor e pior em nós mesmos.



É amor ou paixão?


Sanford nos diz que “a experiência de apaixonar-se equivale a tornar-se aberto aos assuntos do coração de maneira maravilhosa. Pode ser um prelúdio de uma expansão valiosa da personalidade e da vida emocional.[…] apaixonar-se é uma experiência natural e bela.” Mas Sanford também nos alerta que “os relacionamentos baseados exclusivamente no estado de paixão nunca duram. Apaixonar-se é próprio para os deuses […] o relacionamento humano entre duas pessoas apaixonadas não resiste ao teste de realidade, ele só consegue sobreviver num mundo de fantasia.”


Ainda segundo Sanford, o relacionamento amoroso verdadeiro “nos leva a amadurecer, estimulando expectativas realistas em relação a outras pessoas. Significa aceitar a responsabilidade por nossa própria felicidade ou infelicidade, sem esperar que a outra pessoa nos faça felizes.”


A beleza desse encontro se dá quando percebemos que é uma excelente oportunidade de revermos nossa própria alma. É um mergulho nas partes mais profundas de nós mesmos.


Se quisermos apenas satisfazer nossa carência infantil, então vamos esperar passivamente que o ser amado cuide de nós como nossos pais deveriam ter cuidado. Mas se tomarmos consciência de um chamado para evoluirmos como seres humanos, então receberemos esse encontro como uma inspiração.


A grande “obra-prima” da nossa vida pode acontecer nessa interação alquímica, na relação amorosa entre duas pessoas. Jung nos diz que o processo de integração da Ânima e do Animus, na tentativa de tornar-se inteiro poderia ser chamado de “obra- prima”. A explicação mais simples de Jung para Ânima e Animus é: “o elemento masculino na mulher é chamado de Animus, e o elemento feminino no homem corresponde a Ânima.” Talvez fique mais fácil visualizar essa imagem no símbolo do Yin e Yang do taoísmo. Há uma parte do masculino no feminino, e vice-versa. Esse simbolismo existe em muitas culturas milenares, e dessa interação de opostos podemos chegar a estados de transcendência.


É uma tarefa fácil? Não.


Relacionamentos entre opostos sempre dão muito trabalho. Mas a verdadeira história de amor fala muito mais de nós do que do outro. Cada pessoa precisa tomar consciência dessa obra-prima que está sendo construída internamente. É um processo interno, intenso, por vezes doloroso e com certeza trabalhoso. O diálogo interno e externo interagem o tempo todo.


O amadurecimento da alma traz a consciência de que é necessário nos responsabilizarmos por nossa própria vida. A Ânima e o Animus que ressoam dentro e fora da gente podem nos inspirar a enfrentarmos essa jornada. Não importa se a relação é homossexual, heterossexual, ou de outra natureza. O outro é sempre outro. E cabe a nós esse mergulho intenso e profundo… conectando-nos ao amor sagrado e incondicional, a meta máxima que nos liberta da dor e do sofrimento.


Sanford, J. A. Os parceiros invisíveis: o masculino e o feminino dentro de cada um de nós. São Paulo: Paulus, 1987.

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