A história do Patinho Feio e sua relação com o bullying

Sandra Midori Sasaki • 6 de setembro de 2024

Eu trabalho com crianças há mais de 20 anos. E a linguagem que elas trazem na terapia são um material riquíssimo para entender a psique infantil. Há muitos anos atrás um menino de 4 anos me disse: “Não é verdade tia Sandra, que o patinho feio sofreu bullying?”. Era a forma como ele tentava entender o que acontecia na escola.


Segundo pesquisa do Datasenado* “QUASE SETE MILHÕES DE ESTUDANTES SOFRERAM ALGUM TIPO DE VIOLÊNCIA NA ESCOLA. A pesquisa também apontou que as pessoas têm mais medo da violência na escola do que nas ruas – 90% contra 76%.”


O microcosmo da escola reflete as dificuldades que a pessoa irá enfrentar na vida. Mas as vezes o assédio moral dos professores e o bullying dos colegas da escola são tão intensos que algumas crianças e adolescentes cometem suicídio.


Na história do Patinho Feio do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen conseguimos perceber algumas semelhanças do que acontece na escola e em outros ambientes da criança:


“Um filhote de cisne é chocado no ninho de uma pata. Por ser diferente dos demais filhotes, o pobrezinho é perseguido, ofendido e maltratado por todos os patos e outras aves.


Um dia, cansado de tanta humilhação, foge do ninho. Durante a sua jornada, ele para em vários lugares, mas é maltratado em todos que passava. Por fim, uma família de camponeses o encontra e ajuda-o acolhendo durante o inverno. Mas a família tem um gato que expulsou o patinho.


Um dia, no entanto, deslumbrado com a beleza dos cisnes, o patinho feio decide ir até eles e percebe, espelhando-se na água, que ele não é mais um patinho feio (e que ele na verdade, nunca foi um pato), mas se tornou um magnífico cisne. Finalmente ele acaba sendo respeitado e se torna mais bonito do que nunca.”


Observamos neste resumo da história os sentimentos de inadequação, angústia, ansiedade, medo, tristeza, solidão e abandono. A ameaça de um mundo hostil e a falta de conexão consigo mesmo nos leva à depressão. Mas observem que detalhe interessante: quando nos olhamos no espelho, quando conseguimos nos enxergar, refletimos a nossa verdadeira natureza, e nos conectamos aos nossos semelhantes. O autoconhecimento é a chave para a vida.



Quando nos conscientizamos da nossa própria natureza conseguimos florescer em meio ao caos. Como disse Carl Gustav Jung: “Só aquilo que realmente somos tem o poder de curar-nos.”


* https://www12.senado.leg.br/radio/1/noticia/2023/07/04/pesquisa-do-datasenado-revela-que-quase-8-milhoes-de-estudantes-sofreram-violencia-na-escola

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